IBIRAÇU
IBIRAÇU
De 1877 a 1886, entraram italianos em Ibiraçu então chamada
Pau-Gigante, Vieram, os primeiros, de Genova e participaram,
alguns, de viagens já relatadas anteriormente. Outros
viajaram no Maria Pia, que partiu da Itália, a 25 de julho
do mesmo ano (1877). Da Vitória, seguiram para Santa Cruz,
hoje Aracruz, onde repousaram alguns dias. Tomaram, depois,
canoas, para Córrego Fundo, e acomodaram-se em barracos. Em
seguida, abriram picadas, na mata virgem, e alcançaram as
terras da Vila Guaraná.
Vieram, Com o tempo, as seguintes famílias:
Aleprandi Baioco Barborioli Baroni Benezolli Bessi Bissolati
Boffi Bonesi
Borghi Bortolini Borzato Botto Bozzi Caliman Campagnano
Campustini Can Cani
Cardinan Carlesso Carrara Carrareto Ceccato Cera Cestari
Cirtolli Cnhochi
Cometti Conti Costa Cristofori Cumin Curto Cuzzini Cuzzuol
Da Ros De Bertolo
De Marchi De Nardi De Piante Del Caro Del Piazza Del Pietro
Della-Valentina
Delunardo Denti Engelhardt Fantin Farina Fioroti Folli
Frigini Fritoli Furieri
Gaslop Girelli Gregatto Grippa Guasti Guidetti Guidollini
Guzzo La Porti
Lampe Levis Liberato Locatelli Lombardi Lozer Maioli
Malevini Mali
Mandatto Marim Massaria Massariol Mattiuzi Mazzega Menegazzi
Miossi Modenesi
Morelato Moro Musso Natali Negri Nossa Pagiola Pandolfi
Pelicani Pelissao
Pelissari Pelozzi Penechi Perovani Perut Pianca Piazzi Piva
Pizzol Ponti Pozzoto
Radavelli Rampinelli Ravanelli Ravani Reali Recla Redivo
Ricatto Risso Romani
Rosalem Sagrillo Santo Santuzzi Sarcinelli Savasini Scopel
Secomandi Simenelli
Soneghet Sperandio Spinasse Tassin Tessarollo Tintore
Trevilin Trich Vancini
Vescovi Vulpi Zaganelli Zanchet Zandona Zanotti Zatta
Zerbini Zorzanelli Zuchini
Pode-se dizer que Ibiraçu é um município todo povoado pelos
italianos! Na relação faltam, ainda, muitas famílias, que
não nos foi possível locallzar.
Os imigrantes, que tanto sofreram quando ali chegaram,
abrigados em baracos, abriram estradas, na mata virgem,
abateram a floresta, lutaram, mas venceram!...
Pelo testemunho da Sra. Dileta Perut, o Sr. Angelo Perut,
seu genitor, saiu da Itália, a 25 de Julho de 1877, no Maria
Pia que, apanhado pela calmaria, ficou parado trinta e três
dias, em alto mar, os alimentos foram se acabando e tiveram
de ser racionados, reduzidos até a uma xícara de leite e um
pãozlnho. Veio a fome!...
Chegaram a Vitória, a 20 de setembro e foram logo para Santa
Cruz, onde permaneceram algum tempo, afim de se recuperarem
da tumultuada viagem. Seguiram, depois, em canoas, para
Côrrego Fundo onde encontraram bugres, na mata. Usavam
tanga, cocares, e botoques, nos lábios, e corriam, ao ver os
italianos.
Angelo Perut dispunha apenas de um canivete e, com ele, fez
sua barraca, de varas, junto a uma grande árvore. Certa vez,
sentou-se num pau caído, na mata. Sua mulher mostrou-lhe um
monte de folhas, que se movia. Ao mexer nas fo1has, Angelo
descobriu enorme surucucu!...
A Sra. Florinda Gratz contou-nos que muitos imigrantes, ao
chegarem ao seu destino, morreram de febres!
O Sr. Boff Giovanni, que chegou ao Rio de Janeiro, a 31 de
dezembro 1892, saíra de Genova, no Solferino a 12 do mesmo
mês. Depois de um estágio, em Pinheiros, veio com a família
pa o Espírito Santo, no navio Olinda. Pela dificuldade da
língua, passaram fome, a bordo, mediante sinais,
comunicaram-se com um marinheiro.
Daqui a pouco, vão ganhar bolachas.
Entenderam polastro, que, em Italiano, significa frango
ficaram satisfeitíssimos! Mas, que ilusão!... Receberam
bolachas velhas e bichadas... E a fome continuou, curtida,
até chegarem a Vitória, onde se hospedaram na Pedra d'Agua,
para a quarentena.
Seguiram, no Araruama para Santa Cruz. Daí, em canoas, para
Córrego Fundo. Após um dia de repouso, partiram, a pé, numa
estrada primitiva, cheia de lama e buracos, para Conde D'Eu.
Conde D'Eu, hoje, é Ibiraçu. Encontraram patrícios, que os
hospedaram. O chefe da família Boff comprou umas
benfeitorias. Mas, foi um calvário!.. As mulheres choravam,
queriam voltar para a Itália.
Giacomo Boff, pai de Giovanni, era sapateiro, na Itália.
Sperandio Del Caro foi um desses homens duros,
extraordinários, na luta pela vida. Seguiu o traçado de
muitos do seu tempo (1889) : Vitória, Santa Cruz e, rio
acima, até Córrego Fundo, na fazenda do Sr.Aristides
Guaraná. Veio, com seu pai viúvo e alguns irmãos. Rapaz de
quatorze ou quize anos, tinha o curso primário completo e
conhecimentos de música. Empregou-se logo no comécio, em
Demetrio Ribeiro e devia fazer tudo até, como tropeiro,
levar e trazer mercadorias de Santa Cruz para o então
lugarejo, agora, Ibiraçu. Passou, depois, a meeiro, na
lavoura. Comprou terras. E, sempre no trabalho árduo, em
1915, estabeleceu-se com pequena casa comercial, de secos e
molhados. Construiu engenho de fubá, movido a água; mas,
continuou na lavoura de café e cereais. Trabalhou
heroicamente e, auxiliado já pelos filhos, adquiriu, em
Cavalinho, a propriedade, agora ampliada, que pertence às
Casas SPERANDIO, Comércio Ltda. Falecido, a 23 de abril de
1949, deixou seus filhos organizados na vida.
Francisco Modenesi, Imigrante de 1886, descendia dos Duques
de Modena. Ao chegar ao Espírito Santo, foi para as terras
do Sr. Aristides Arminio Guaraná, em Santa Cruz; passou,
depois, para o Alto Bergamo. Casou-se com Judit De Piero,
Italiana. Adquiriu terras, em Piabas, estaçao de Lauro
Muller, hoje Ibiraçu. Homem culto, procurou aprimorar sua
Inteligência e tornou-se chefe político do lugar. Foi
Vereador, e, duas vezes, Prefeito. Recebeu a espada e o
uniforme de Capitão da Guarda Nacional, fundou uma fábrica
de Cerveja e grande casa comercial, ponto de encontro de
todos, em Pau-Gigante. Quando sua filha Hermínia regressou,
formada Professora Normalista foi recebida festivamente.
Fogos, Banda de Música! Aliás, Herminia honrou o berço:
formou-se em Direito e, o Dr. Mário Wanderley, exerceu o
magistério no Interior e na capital do Estado, até
aposentar-se. Era oradora fluente, desde a juventude, e, na
Inauguração da Estação de Lauro Muller, fez um discurso que
emociounou a assistência. Dentre os seus filhos, todos bem
encaminhados na vida, o Dr. Hervan Wanderley e conceituado
médico, em Vitória, e professor da faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Espírito Santo.
Andréa Modenesi, pai de Francisco, tinha mais dois filhos:
Anselmo foi para Viana; o outro, Glovanl, ficou nas
Imediações de Ibiraçu.
Filho de Gluseppe Soneghet e Lucrezzla Amadeo, Antonio
CrlstIno Soneghet veio, com seus pais e irmãos, em 1874.
Tinha catorze anos.
Os Imigrantes do seu grupo, como o Bonesi , Negri,
Sarcinelli e outros assinalados nesta notícia, foram para
Córrego Fundo, onde se alojaram em barracões coletivos.
Passaram, depois, para Pau Gigante, onde receberam prazos e
dedlcaram-se à agricultura.
Como Antonio não se adaptava à agricultura, teve permissão
paterna para dedicar-se ao comércio, e empregou-se na Casa
Bonesi. Foi nomeado Agente do Correio local.
Negri Oreste era agrimensor e embrenhava-se pelas matas, em
companhia dos engenheiros encarregados das medições. Sofreu
logo as consequências das doenças do lugar como se dizia, as
febres e outros flagelos. Perdeu a esposa, que foi enterrada
debaixo de uma árvore!... Deixou-lhe duas filhas pequenas,
de um e três anos. Carmelita, a primeira, faleceu. Idalba,
ou Ida, cuidava do feijão que o Sr. Negri deixava
cozinhando, na trempe. "Minha filha não deixe faltar água na
panela e lenha no fogão", recomendava-lhe o pai.
Negri Oreste casou-se, em segundas núpcias, com Elisabeta
Sarclnelli, .que adotou a pequena Ida e transmitiu-lhe fina
educação e prendas doméstlcas. Quando o agrmensor
demorava-se, nas matas, elas ganhavam o pão com o trabalho
de consertar sacos de estopa, à luz do luar, para o
imigrantes, porque não podiam comprar querosene para as
lamparinas!....
Ida casou-se com Antonio Cristino Soneghet, em 1893. Entre
seus sete filhos, contava-se o Dr. Hilárlo Soneghet, ja
referido. Nascido a 25 de março de 1904, e falecido a 3 de
fevereiro de 1969, suas poesias tiveram edição póstuma, em
fina brochura -Por Estradas Curvas. Suas filhas Iamara,
falecida, Marilena e Lourdes herdaram-lhe o dom da poesia.
Os imigrantes de Ibiraçu, como em outros núcleos do
povoamento, iam se cruzando, pela formação de novas
famílias. E, assim, cada um teve sua história. E da formação
dessas famílias dos seus desbravadores, Ibiraçu teve filhos
de valor, além de Hilário Soneghet. Vejamos alguns nomes,
que se distinguiram: Luis Fernando Sarcirnelli Garcia,
formado pela Escola Federal de Minas, de Ouro Preto. Fez
diversos cursos, como Produção de Minérios de Ferro,
ministrado pelo Prof. Jean Michard, da IRSIP, França, e
estudos sobre a Integração Latino Americano, do Centro
PRODEO.
Outros engenheiros dessa descendência: Guilherme Cesar e
Eduardo Sarcinelli, filhos de José Sarcinelli. O primeiro é
Superintendente do departamento de Obras da Cia. Vale do Rio
Doce; o segundo, metalurgista formado em Ouro Preto, ocupa
alto cargo do Ministério de Minas e Energia em Brasília.
Reginaldo Sarcinelli, engenheiro de valor, desempenhou
elevados cargos na Hidrelétrica de São Francisco, em são
Paulo (Capital) e Santos. Atualmente, está no Estado do
Pará, onde dirige a Construção da Barragem e Usina
Hidro-elétrlca do Curuá-Una, um afluente direto do Rio
Amazonas, no Município de Santarém.
Filhos de Cesar Soneghet, Rinzo é engenheiro naval. Foi
professor da Faculdade de Engenharia do Rio de Janeiro;
trabalhou na Ishiwagina, seis anos; foi diretor do Estaleiro
SD,de Porto Alegre, sete anos. Atualmente, trabalha na Rossi
Serviz; Paulo Cesar Soneghet é Diretor Gerente da Pirelli,
em Porto Alegre.
Parece que há preferência pela engenharia, em Ibiraçu. Além
dos referidos, encontramos dois na família Del Caro: José
Luis, engenheiro eletrônlco, e Mauro, engenheiro civil,
filhos de 0lívia Del Caro e Jossy Paiva.
O Dr. Otávio Guasti, médico, foi o primeiro cardiologista
que exerceu essa especialidade, na Vitória, enquanto o Dr.
Henrique Del Caro, médico igualmente elegeu-se Deputado
Estadual e suplente de Senador, substituiu Dr. Raul
Giuberti,numa das vezes que se afastou do Senado.
Na capital do Espírito Santo, o Dr. Setembrino Pelissari,
Deputado Estadual, exerce pela segunda vez, o cargo de
Prefeito Municipal.
Enio Modenesi Pereira, Industrial, fundador de várias firmas
comerciais industriais, é homem de sociedade e foi, durante
muitos anos, Secretário Geral do Clube Vitórla. É fundador e
Vice-Presidente do Clube Itálo-Braslieiro, além de exercer
outras atividades, no café e no comércio em geral. E
Cônsul-Honorário da Bélgica, no Espírito Santo.
Ibiraçu deve à família Ceccato o belo Santuário de Nossa
Senhora de Caravaggio, em Acioli , cuja história foi escrita
por Ceccato Giovanni guardada dentro de um quadro, para ser
conhecida, somente, a 26 de maio de 1955.
Ceccato Giovanni veio da Itália, solteiro, com sua mãe Maria
Ceccato e seus irmãos (Giovanna, Pietro Giovanni e Antonio
Paulo). Era natural de Beluno, distrito de Feltre, comuna de
Serem. Viajou para o Brasil a 21 de novembro de 1890, no
vapor Duchessa de Genova. E qual outros mencionados, viveu
um romance, porque, no mesmo navio, veio Maria Scopel, com
sua família. Já se conheciam, o que favoreceu o projeto de
casamento, no Brasil.
Dessa união, nasceram os seguintes filhos: José, Giglio,
Antonio, Rafael, Virginia, Irene, Conceta, 0lga, Oderico e
Afonso.
Ceccato Giovanni escreveu um Memorandum que deixou dentro de
um quadro de Nossa Senhora de Caravaggio, trazido da Europa,
relíquia inestimável da família. Antes de falecer, 1º de
dezembro de 1939, revelou a existência do Memorandum mas,
somente a 26 de maio de 1955, em presença da viúva e dos
filhos, foi aberto o quadro, para o seu reconhecimento.
Seu filho, Rafael, escreveu o relato dessa tocante passagem
e colocou-o, da mesma forma, no quadro.
Nesse dia, 26 de maio de 1955, houve linda festa de Nossa
Senhora de Caravaggio, com duas missas, uma campal,
assistida por verdadeira multidão e acompanhada de banda de
música. A outra, foi em Ação de Graças, pelo jovem Rafael,
doente que estava há três anos.
No Memorandum firmado em Acioli , a 26 de maio de 1930,
Ceccato Giovanni descreveu sua chegada ao Brasil, em 1890, e
ida para Conde D'EU; transferência para Pau Gigante, em
1891, para desbravar matas e fazer lavouras de café. A luta
coma terrrível seca inspirou-lhe recorrer a Nossa Senhora de
Caravaggio. Pediu ao pai que lhe permitisse erigir um
pequeno oratório, onde colocasse o quadro, lembrança de um
abade a Maria Scopel, quando essa contava apenas onze anos
de idade, para que divulgasse a devoção.
O oratório se fez, com quatro paus e dez taboinhas. Depois,
e com sacrifícios Ceccato levantou o Santuário de Nossa
Senhora de Caravaggio, onde anualnente, a 26 de maio, dia da
Compadecida Giovanetta, há festa religiosa, com enorme
assistêndia.
A prineira missa campal foi celebrada a 26 de maio de 1930,
portanto, em vida de Ceccato, que dirigiu a solenidade, na
qual sessenta crianças receberam a Primeira Comunhao.
Mas, indagará o leitor, por que vieram os imigrantes?
Estavam todos esperançosos de que o Brasil fosse o Eldorado.
E tinham o ideal de ganhar dinheiro, pois, na Itália, a vida
estava dura.
Alguns Imigrantes, desiludidos, voltaram; outros se
conformaram, apesar da saudade. E o braço forte dos
imigrantes fez Ibiraçu.
Em 1877, diversas outras levas chegaram, com os mesmos
objetos: riqueza e a felicidade. Registremos as seguintes:
duzentos e três imigrantes, para Timbuí, procedentes de
Genova; quatrocentos e cinquenta e três chegaram, pelo vapor
Isabel seguiu para Santa Cruz; a 24 de outubro, quatrocentos
e setenta e no Clementina, para o mesmo lugar.